A Sociedade do Espetáculo 2: uma reação inesperada

11 de fev. de 2012

“Peter Brook vê o teatro como um meio de atingir o que nenhum outro meio é capaz: ‘Aqui está à responsabilidade do teatro: o que um livro não pode transmitir, o que nenhum filósofo pode verdadeiramente explicar, poder ser alcançando através do teatro. Traduzir o intraduzível é um de seus papéis.”
Dia dez de fevereiro de dois mil e doze, as dez para as oito da noite em frente ao TMI - Teatro Municipal de Ilhéus, um grande movimento assolava o local. Nossa quem está em cartaz? Deve ser alguém muito conhecido e famoso para se apresentar no teatro em plena greve da polícia e um medo desenfreado que se instaurou pra essas bandas. Não me lembro da divulgação de nenhum espetáculo de globais sendo anunciado pelos massivos e alienadores meios de comunicação!!! O que será que está acontecendo; mais e mais pessoas surgindo das ruas, vielas e passagens das proximidades do teatro. Pera ai! Não… Será? Não pode ser!?!

Agora me recordo de ter visto os cartazes de uns atores chumbregas (na visão dos telespectadores passivos da plim-plim) na semana passada que anunciava o espetáculo “Pura Comédia” que não foi realizado devido ao “caos” e sensação de insegurança e um acovardamento despertados nas pessoas pela mídia sensacionalista. Não entendo, mas como poderiam eles em tão pouco tempo ter avisado sobre o adiamento da peça para todo aquele público que ali se aglomerava? Ali presentes, indivíduos sedentos, famintos por um evento que para o bem estar social, contradiz o artigo da semana passada “A Sociedade do Espetáculo: uma crítica aos espetáculos alienadores”. Será que os novos ventos da mudança estão chegando e dissipando essa névoa obscura de ignorância e incompetência?
Toca o primeiro sinal e a fila ainda não havia entrado, e, pra variar alguns atrasados adentravam a platéia ao iniciar do espetáculo com a casa lotado, menos mal, melhor que ter ficado em casa assistindo sua novelinha pacíficamente. Numa linguagem popular e satírica sob ininterruptas gargalhadas, veementemente ovacionadas pela platéia, a CCAT - Cia. Casa Aberta de Teatro abordou de forma irreverente as situações mais pitorescas de nossa sociedade sem deixar de lado boas pitadas de uma crítica social, comuns a função da comédia desde os seus primórdios na Grécia antiga com seus principais autores, Aristófanes e Menandro, passando pelas Atelanas romanas, a Comédia dell´arte, entre outras com o mesmo tom jocoso e hilariante de protesto através de várias esquetes.
 
 Na esquete o “Nerde”, abordou-se a situação do mercado de trabalho, salientando a importância do primeiro emprego para o jovem, muitas vezes usados pra apagar “incêndios” pela falta de mão de obra capacitada, além da exploração de patrões que cada vez mais querem funcionários multifuncionais, porém com um salário medíocre.


“Arrocha Brasil” contestou a questão dos gostos musicais duvidosos, sem conteúdo e com gritinhos e “coreografias” reduzidas ao balanço erotizado do quadril que inflama a platéia nos “shows da vida”. Além de abordar a temática dos votos de cabresto que ainda andam muito em voga, muito comuns aqui na região e que datam da época dos coronéis. O refrão do arrocha “Seu voto vale R$1,00, pacote de feijão, pacote de arroz….” no palco deixou claro por que a região não se desenvolve, continuando a míngua há décadas.
Na cena “Dona Maria”, uma senhora simples e trabalhadora, empregada doméstica que já devia estar aposentada, retrata a exploração dessa mão-de-obra pelas madames, filhas do cacau que sugam até a última gota de sangue dessas pessoas honradas e honestas, mães de famílias.


Em “Chapeuzinho Vermelho” desmistifica-se o lado inocente dos contos de fada, tratado da vulnerabilidade das crianças diante dos meios de comunicação que exploram aleatoriamente e gratuitamente questões como as drogas e a erotização, amplamente difundido por nossas mídias em horários não tão nobres assim.
“Tota-tola” exemplifica claramente o estado mental de pessoas mentecaptas a realidade, que deixam-se levar pelos conteúdos subliminares contidos nas propagandas no meio midiático de forma geral, em especial nesse caso, a televisão com grande poder de influenciar a opinião popular, “roubando-lhes” a mente a todo tempo ao oferecer produtos de obsolescência  projetada ou programada e obsolescência percebida.
O jornal “Utopia Nacional” através da metalinguagem, criticou duplamente os jornais televisivos que nada acrescentam a mente das pessoas, além de retratar  ipsis litteris cenário político da região, o descaso do poder público com os serviços essenciais como educação, saúde e segurança. Em especial uma crítica mais contundente foi feita a atual administração pública de Ilhéus com projeções dignas do teatro de vanguarda que mesclas as mais diversas linguagens audiovisuais à cena, parodiando a propaganda do Governo da Bahia e pequenas reportagens in loco, deixando em evidência as mazelas municipais como o transporte, a saúde, a educação, o saneamento básico e o turismo, sendo o ultimo tema muito bem retratado ao demonstrar o total descaso com nossos turistas e a falta de infra-estrutura.  O turismo é uma pasta de extrema relevância para o município, o tema foi muito bem colocado, trazendo a tona o fato ocorrido quando do esquecimento de Ilhéus na divulgação dos principais roteiros turísticos da Bahia para a Copa do Mundo de 2014, por conta de uma divulgação do Governo da Bahia no site: http://www.bahia.com.br/noticias/2012-01-06/bahia-tem-18-dos-destinos-turisticos-indicados-para-visitacao-durante-copa
 Esse fato gerou uma forte mobilização do trade turístico ilheense em uma campanha de descontentamento com o atual secretário que não tem correspondido aos anseios deste mesmo trade.
O “Bandido Honesto” explicita a falta de segurança numa sociedade a mercê dos bandidos, não só os criminosos, mas também por aqueles que desviam sua conduta e ao invés de nos proteger, escondem-se atrás de uma farda cometendo abusos, dos que deveriam cuidar de nossa economia e que cometem crimes do colarinho branco, e a meu ver, os de pior espécie que encabeçam o rol do mais baixo calão, nossos políticos corruptos com suas falcatruas que se utilizam das brechas nas leis, criadas em benefício próprio.
PARABÉNS A TODOS OS PATROCINADORES QUE AJUDAM A DIFUSÃO DA CULTURA LOCAL!!!

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